Nesta semana, o Instagram promoveu uma mudança na interação dos usuários da rede social no Brasil ao retirar o número de likes (curtidas) que apareciam nas publicações de fotos. O Facebook, empresa que administra a plataforma, informou que a medida possui caráter experimental. Apenas os próprios usuários terão acesso aos dados de interação.
“Não queremos que as pessoas sintam que estão em uma competição dentro do Instagram e nossa expectativa é entender se uma mudança desse tipo poderia ajudar as pessoas a focar menos nas curtidas e mais em contar suas histórias”, informou a empresa por meio de comunicado.
Inicialmente, portanto, concluiu-se que a intenção era preservar a saúde mental de milhares de adolescentes brasileiros que apresentam doenças como depressão ou ansiedade, ao comparar suas vidas à de influenciadores digitais que postam fotos em viagens paradisíacas, vestindo roupas de grife e usando carros de luxo. Do outro lado da tela, estão anônimos que possuem problemas como a falta de dinheiro, problemas de saúde, fila no banco e em restaurantes, por exemplo.
Para o especialista em Tecnologia e Educação Ralph Rangel (foto ao lado), não se trata de uma causa tão nobre, indo além de uma questão meramente social. “Não está claro se é uma questão social. O Facebook não estava conseguindo monetizar o uso da rede. Havia personalidades com 5, 10 milhões de seguidores e a empresa não estaria ganhando”, avalia. Trata-se de um mercado que movimenta bilhões de dólares.
Mensuração dos resultados
A partir de agora, haverá mudança também na mensuração dos resultados, que não estarão mais públicos e acessíveis como antes. “Você terá que acreditar nos influenciadores e esses números podem ser manipulados. As empresas de marketing vão perder porque não terão as métricas ao seu alcance”, explica.
O especialista diz que o Facebook está monitorando o comportamento dos usuários e a reação quanto à mudança e acredita que, em até 15 dias no máximo, adotará uma nova estratégia. Ralph analisa que a aplicação de algoritmos (sequências lógicas que têm como objetivo determinar a ordem dos posts na linha do tempo de acordo com sua relevância aos usuários) ocorre com maior frequência no Facebook e, assim, a rede possui maior controle sobre o conteúdo visto pelos usuários.
No Instagram, a procura é maior por publicações orgânicas, aquelas que não são pagas e acabam ganhando maior engajamento – curtidas e comentários, por exemplo. Em relação aos influenciadores digitais, Ralph acredita que muitos estejam “preocupados porque vendiam a experiência, o desejo, uma expectativa e agora perderam esse parâmetro”.
A mudança também pode causar um efeito contrário no psicológico de adolescentes que apresentam o transtorno conhecido como Fear of Missing Out (Fomo), que em português signigica medo de estar perdendo algo. “A princípio, pensei que seria melhor, já que as curtidas ou a falta delas ajudaria a diminuir a ansiedade dos usuários do insta, mas ocorre que os viciados em ‘tendências’ agora não têm mais parâmetro e a Fomo vai aumentar e neste caso aumentaria a ansiedade e novos transtornos poderão surgir”, diz.
Ralph Rangel já foi superintendente da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás (Seduce) e é empresário no segmento de educação.
Entrevista concedida à Gabriela Louredo e publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://aredacao.com.br/noticias/121897/-nao-e-so-uma-questao-social-diz-ralph-rangel-sobre-mudanca-no-instagram