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O meu chapéu não é de palha

O meu chapéu não é de palha, eu gosto mesmo é de chapéu de couro, me sinto mais bonito, mais poderoso, ele está sempre comigo, até quebrei o regimento – e olha, podem falar o que quiser de mim – nunca me chamarão de ladrão.  

Comigo é assim, eu mando e desmando. É a minha vontade que vale!

Quer ver uma coisa? Mulher minha senta é no meu colo, achou ruim? Problema seu, eu não sou ladrão!  

Tempos atrás vi um tanto de mulher bonita, pensei, só pode ser dama da noite! Eita, que eu não vou ficar só pensando não, vou é falar – Tem um monte de prostitutas por essas bandas de cá – falei bonito né?  

Pros-ti-tu-ta, aquele outro nome é bem feio!  

Sou representante do povo, vim de uma cidade com quase vinte e quatro mil habitantes, lá tem leite pra daná, acabei crescendo demais, me deram uma tal de imunidade, por isso eu falo o que quiser, e na casa tem de tudo, por lá eu acho que faço sucesso, tem uns que até riem!   

Vocês vão desculpando o meu português, eu não sou bom nessas coisas não, só não falem que sou ladrão, porque, isso eu não sou!  

Já me falaram que tenho o estilo de coronel, daqueles antigos, não gosto não, prefiro o estilo do John Wayne, é mais moderno, ainda mais ele montado naquele cavalão bonito, revolver na cintura, chapelão de couro!

Outro dia, durante uma fala minha, me questionaram. Ah! Quem eles pensam que são? Ô povo ignorante! Querem respeito? Tem que dar respeito antes, ainda se dizem da educação – que vão tomar banho na soda, se quiserem falar comigo tem que ser lá fora, não sou bostinha não, sou é muito homem, estão achando o que?   

Para esse tipo de gente eu dou é pé na bunda!   Esses escravos de migalhas querem o quê? Comigo é assim mesmo! Tenho medo não, eu sou a Casa Grande, eles são a Senzala!  

Beijo proceis!  

*Ralph Rangel
é especialista em educação e tecnologia e foi superintendente na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás.

Artigo originalmente publicado no Jornal A Redação, link https://aredacao.com.br/artigos/126995/o-meu-chapeu-nao-e-de-palha

Menos é Mais?

Diz o ditado que menos é mais – menos smartphone, mais contato pessoal, menos fumo, mais saúde, menos fábricas, mais ar puro – mas será que podemos afirmar que menos recursos para a educação culminará em educação de melhor qualidade e para todos? É o que se pretende discutir neste artigo, o que demanda analisar o cenário da educação brasileira no que se refere a financiamentos e objetivos.

Setembro de 1996 – Uma nova era para a educação

Em 1996 foi criada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), sob número 9.394, que determinou que o Sistema Educacional Brasileiro passasse a ser dividido em Educação Básica e Ensino Superior. A Educação Básica tendo como objetivo principal assegurar à população as competências gerais que garantam a aprendizagem e desenvolvimento de cidadãos participativos e éticos. Com este objetivo o MEC estruturou a Educação Básica por etapas e modalidades que englobam a educação infantil, o ensino fundamental obrigatório e o ensino médio.

Definiu ainda que, o Ensino Superior, tem como principal objetivo o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo nas diversas áreas de conhecimento, formando profissionais aptos ao mercado de trabalho e ao desenvolvimento de pesquisas científicas entre outras finalidades.

De acordo com a LDB, os Estados são os responsáveis por progressivamente tornar o ensino médio obrigatório, e para que tal fato ocorra, de acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), devem todos os Estados, aumentar o número de vagas disponíveis, de forma a atender a todos os concluintes do ensino fundamental.

Com o foco exclusivamente no ensino fundamental, foi criado o FUNDEF, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, através da Emenda Constitucional n.º 14, instituída em setembro de 1996, que alterou o artigo 60 do ADCT, Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Dezembro de 1996 – Um fundo para fomentar o ensino fundamental

Em 24 de dezembro de 1996, foi promulgada a Lei do FUNDEF, sob n.º 9.424, com vigência a partir de 1º de janeiro de 1997, sendo extinta em 31 de dezembro de 2006 por força de nova lei. Durante o seu período de vigência houve um avanço no atendimento do ensino fundamental, pouco faltando para a sua universalização no Brasil. Foram bons os resultados em termos quantitativos, o mesmo não se pode falar em termos qualitativos. Nas tabelas a seguir, percebemos a queda na proficiência (domínio num determinado campo; capacidade, habilitação.) nas duas principais disciplinas avaliadas pelo MEC via SAEB, Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica.

Algo não funcionou bem – Queda na proficiência com mais recursos?

Quando se analisa os dados do SAEB de 1995 a 2005 na última série dos anos iniciais do ensino fundamental, percebe-se que a proficiência apresentou queda de 8,5%; e em matemática os dados mostram que a queda foi de 4,3%.  

Analisandos os mesmos dados para a última série dos anos finais do ensino fundamental, percebe-se que a proficiência em português apresentou uma queda de 9,45%; e em matemática os dados mostram uma queda de 5,41%.  
 
Durante o período de vigência do FUNDEF o país pouco avançou com relação a erradicação do analfabetismo, afinal, segundo dados de estimava do IBGE em 2005, para pessoas com 15 anos ou mais, 14,9 milhões eram analfabetas, para se ter uma base de comparação esse número representa quase 3 vezes mais a população da Finlândia no mesmo período. 

Mas o que aconteceu então? O que ocorreu foi uma atenção e maior volume de recursos, em termos relativos, na ampliação da rede, e na gestão de responsabilidade compartilhada entre Estados e Municípios.

Ampliar e melhorar é preciso – A criação do FUNDEB

Diante do quadro apresentado, e com necessidade de cuidar da Educação Básica como um todo, aumentaram também as pressões para a criação de um fundo de manutenção e desenvolvimento da Educação Básica, compreendendo todas as etapas, níveis e modalidades de ensino que a integram. Buscava-se também, a valorização dos profissionais do magistério da Educação Básica. Fato que até o presente momento (2019) não ocorreu de fato.

Em 19 de dezembro de 2006 foi promulgada a Emenda Constitucional n.º 53, dando nova   redação   ao   artigo   60   do   ADCT.   Era criado o FUNDEB, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, regulamentado pela Lei nº 11.494/2007 e pelo Decreto nº 6.253/2007, em substituição ao FUNDEF.
 
O FUNDEB, é um fundo especial, que vigorará até 2020, de natureza contábil e de âmbito estadual (um fundo por Estado e Distrito Federal, num total de vinte e sete fundos), formado, na quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos e transferências dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, vinculados à educação por força do disposto no Art. 212 da Constituição Federal.

Além desses recursos, ainda compõe o FUNDEB, a título de complementação, uma parcela de recursos federais, sempre que, no âmbito de cada Estado, seu valor por aluno não alcançar o mínimo definido nacionalmente. Independentemente da origem, a totalidade do recurso gerado é redistribuído para aplicação exclusiva na educação básica.

Quanto   à   aplicação   dos   recursos   recebidos   do   FUNDEB, é de fundamental importância mencionar o que dispõe o § 1º do artigo 21 da Lei n.º 11.494, de 2007, quanto à responsabilidade dos Estados   e Municípios, “indistintamente entre etapas, modalidades e tipos de estabelecimento de   ensino   da   educação   básica   nos   respectivos   âmbitos   de   atuação   prioritária, conforme estabelecido nos §§ 2º e 3º do artigo 211 da Constituição”.  A redação é clara e menciona Educação Básica.

Quando se analisa os dados do SAEB de 2005 a 2017 na última série dos anos iniciais do ensino fundamental, percebe-se que a proficiência aumentou aproximadamente 24,81%; e em matemática os dados mostram um aumento de 23,44% aproximadamente.   Analisandos os mesmos dados para a última série dos anos finais do ensino fundamental, percebe-se que a proficiência em português aumentou 12,56%; e em matemática os dados mostram um aumento de 8,77% aproximadamente. 

Para o ensino médio percebemos um aumento de 4,45% na proficiência em português comparando 2005 a 2017; e em matemática percebemos uma estagnação.

Melhorou e isso é bom, mas…

É preciso entender que mesmo com os percentuais de proficiência aumentando, a qualidade do ensino ainda não é boa quando comparada a outros países, muito ainda é preciso ser feito, é preciso gerir melhor os recursos, é preciso que os gestores tenham informações nas mãos e que saibam ler e interpretar tais informações, devem sobretudo, agir ante a qualquer sinal de queda de indicadores.

Entendi, só não entendi o título do artigo com tudo isso!

Percebemos que aumentando os recursos, gerindo a educação básica de forma integrada, trabalhando com indicadores nacionais e internacionais, o Brasil teve um relativo sucesso. Como disse anteriormente, é preciso muito mais, creio, que a solução esteja na própria rede de educação, seja ela Municipal ou Estadual, desde que amparada por uma tecnologia inteligente e por profissionais qualificados e motivados. Sem invencionices, é preciso que o gestor converse com a rede, que faça prevalecer as vozes de professores e alunos, que o básico seja cumprido, que melhores condições de trabalho sejam ofertadas, que o PNE esteja na ponta da língua. É hora de agir.

Em setembro de 2019, foi aprovada na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, uma alteração no artigo 158 da Constituição Estadual, onde se observa um novo índice para aplicação na Educação Básica, no Ensino Superior e na execução de Políticas de Ciências e Tecnologia, o percentual que antes era de 27%, pela nova lei será de 25%, uma redução de 2%. Para o leigo, um percentual de 2% pode não representar muito, mas quando aplicado a valores macro o impacto é grande e sobretudo, danoso.

E pode?

Não, não pode, o FUNDEB é um fundo exclusivo para a Educação Básica, portanto, tal redução é inconstitucional, sendo que ao final deste artigo, poderá o amigo leitor encontrar vários links para um farto material de consulta.  
  Para aqueles que não querem ir tão longe, sugiro que prestem atenção a sigla FUNDEB, especificamente para as duas últimas letras, EB, que se referem a Educação Básica, e como vimos, compreende da educação infantil ao ensino médio, Ensino Superior e Pesquisa Científica não são abarcados pelo referido fundo.
 
Os mais atentos irão perceber que o legislador federal, desde a Constituição de 88, adotou nomenclaturas diferentes para Educação Básica e Ensino Superior, a palavra “Educação”  é um termo mais amplo, que se relaciona ao desenvolvimento do ser humano como um todo, a saber – corpo, mente e espírito –  já o termo “Ensino” refere-se a transmissão de saberes e informações.
 
Por fim, ante ao quadro de perplexidade fica a sensação que a Educação Básica não é prioridade para os legisladores locais, tampouco para o executivo – o piso precisa ser honrado, a progressão garante que os objetivos específicos sejam alcançados, etc. – como fazer o básico com o percentual do orçamento sendo reduzido?
 
Em artigo publicado em 2018, “Uma guerra – Infraestrutura educacional!”, observamos que 71,70% das escolas públicas brasileiras não possuem sala de recursos multifuncionais para atendimento educacional especializado, em Goiás este percentual é de 63,18%; 57.89% das escolas não possuem dependências ou vias adequadas às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzidas, em Goiás o percentual é de 48,23%; 6,74% das escolas brasileiras são escolas sem internet, em Goiás o percentual é de 3,70%; 2,15% é o percentual de escolas sem recursos computacionais no Brasil, em Goiás o percentual é de 0% (zero); no Brasil 13,69% das escolas reportaram que não possuem sala de leitura ou biblioteca, em Goiás 12,86%; 56,79% das escolas do Brasil não possuem laboratório de ciências, em Goiás 68,01% e por fim 24,32% das escolas no Brasil não possuem quadra de esportes, este percentual em Goiás é 33,60%.
 
São tantos desafios e neste caso fica a pergunta, menos é mais?  

*Ralph Rangel é especialista em Tecnologia e Educação

Artigo publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://aredacao.com.br/artigos/124063/-menos-e-mais

“Não é só uma questão social”, diz Ralph Rangel sobre mudança no Instagram

Nesta semana, o Instagram promoveu uma mudança na interação dos usuários da rede social no Brasil ao retirar o número de likes (curtidas) que apareciam nas publicações de fotos. O Facebook, empresa que administra a plataforma, informou que a medida possui caráter experimental. Apenas os próprios usuários terão acesso aos dados de interação.

“Não queremos que as pessoas sintam que estão em uma competição dentro do Instagram e nossa expectativa é entender se uma mudança desse tipo poderia ajudar as pessoas a focar menos nas curtidas e mais em contar suas histórias”, informou a empresa por meio de comunicado.

Inicialmente, portanto, concluiu-se que a intenção era preservar a saúde mental de milhares de adolescentes brasileiros que apresentam doenças como depressão ou ansiedade, ao comparar suas vidas à de influenciadores digitais que postam fotos em viagens paradisíacas, vestindo roupas de grife e usando carros de luxo. Do outro lado da tela, estão anônimos que possuem  problemas como a falta de dinheiro, problemas de saúde, fila no banco e em restaurantes, por exemplo.   

Para o especialista em  Tecnologia e Educação Ralph Rangel (foto ao lado), não se trata de uma causa tão nobre, indo além de uma questão meramente social. “Não está claro se é uma questão social. O Facebook não estava conseguindo monetizar o uso da rede. Havia personalidades com 5, 10 milhões de seguidores e a empresa não estaria ganhando”, avalia. Trata-se de um mercado que movimenta bilhões de dólares.


 

 

Mensuração dos resultados

A partir de agora, haverá mudança também na mensuração dos resultados, que não estarão mais públicos e acessíveis como antes. “Você terá que acreditar nos influenciadores e esses números podem ser manipulados. As empresas de marketing vão perder porque não terão as métricas ao seu alcance”, explica.   

O especialista diz que o Facebook está monitorando o comportamento dos usuários e a reação quanto à mudança e acredita que, em até 15 dias no máximo, adotará uma nova estratégia.  Ralph analisa que a aplicação de algoritmos (sequências lógicas que têm como objetivo determinar a ordem dos posts na linha do tempo de acordo com sua relevância aos usuários) ocorre com maior frequência no Facebook e, assim, a rede possui maior controle sobre o conteúdo visto pelos usuários.

No Instagram, a procura é maior por publicações orgânicas, aquelas que não são pagas e acabam ganhando maior engajamento – curtidas e comentários, por exemplo. Em relação aos influenciadores digitais, Ralph acredita que muitos estejam “preocupados porque vendiam a experiência, o desejo, uma expectativa e agora perderam esse parâmetro”. 

A mudança também pode causar um efeito contrário no psicológico de adolescentes que apresentam o transtorno conhecido como Fear of Missing Out (Fomo), que em português signigica medo de estar perdendo algo. “A princípio, pensei que seria melhor, já que as curtidas ou a falta delas ajudaria a diminuir a ansiedade dos usuários do insta, mas ocorre que os viciados em ‘tendências’ agora não têm mais parâmetro e a Fomo vai aumentar e neste caso aumentaria a ansiedade e novos transtornos poderão surgir”, diz.

Ralph Rangel já foi superintendente da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás (Seduce) e  é empresário no segmento de educação.

Entrevista concedida à Gabriela Louredo e publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://aredacao.com.br/noticias/121897/-nao-e-so-uma-questao-social-diz-ralph-rangel-sobre-mudanca-no-instagram

Uma guerra – A equipe!

Partimos agora para mais uma etapa da série de artigos intitulada “Uma guerra!”, onde estamos analisando os problemas enfrentados pela educação brasileira. Neste artigo, vamos tratar especificamente sobre a equipe, analisando os indicadores do Censo Escolar e PISA da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico), correlacionando-os com PNE – Plano Nacional de Educação para continuarmos avançando e indicando pontos de melhoria, rumo a uma educação com excelência e equidade, os links com os demais artigos podem ser encontrados no final deste.

Quando se fala em equipe, é importante mencionar que o docente não deve ter uma jornada sobrecarregada, que deve focar nas atividades em sala de aula e na preparação das mesmas, seja, na própria formação, seja no planejamento, preparação de aulas e nas atividades individuais e coletivas dos alunos. Deve ainda, ter a formação na área de atuação e ser lotado numa única escola, de tal forma que um vínculo maior seja estabelecido com os alunos e comunidade.

Os indicadores!

Vamos focar em quatro indicadores relacionados a docentes extraídos do Censo Escolar, três do PISA relacionados a temática “docente e equipe” e analisaremos do número médio de alunos por turma também do Censo Escolar, são eles:
• Adequação da formação inicial;
• Esforço para exercício da profissão;
• Regularidade na mesma escola;
• Número de alunos por turma;
• Tipo de contratação;
• Falta de pessoal;
• Assistentes mal qualificados ou inadequados e
• Corpo docente mal qualificado ou inadequado.


A realidade!

Quando analisamos a adequação da formação dos docentes em relação a disciplina que leciona percebemos que no Brasil 58% dos professores estão no grupo de docentes com formação superior de licenciatura na mesma disciplina que lecionam ou bacharelado na mesma disciplina com curso de complementação pedagógica concluído, em Goiás este número é de 45,10%, ou seja, abaixo da média nacional. Neste indicador é possível identificar uma situação grave, no Brasil 6,5% dos professores não possuem curso superior completo, em Goiás este número é de 11,60%, preocupante.

Quando se analisa a sobrecarga no exercício da profissão, o INEP através do indicador “Esforço para exercício da profissão” considera o número de escolas, o número de turnos, o número de alunos atendidos e o número de etapas que cada docente leciona. No Brasil 67,3% dos docentes informaram no Censo que possuem entre 25 e 400 alunos, atuam em até duas escolas e em até duas etapas de ensino, em Goiás este percentual é de 73,10% dos docentes.
 
A rotatividade de docentes prejudica o aprendizado, diminui o vínculo com a escola e com a comunidade e reflete diretamente no clima escolar, o INEP analisa a regularidade dos docentes durante o período de cinco anos, atribuindo valores de 0 a 5 no indicador “Regularidade na mesma escola”, observando as categorias de regularidade “baixa” e “média baixa” deste indicador, percebemos que 45,6% dos docentes do Brasil se enquadram nestas categorias e em Goiás este número é de 45,3%, não muito diferente da média nacional, indicando que aproximadamente metade dos docentes não permanecem na mesma escola no período de cinco anos.
 
Não existe na legislação nacional um número máximo de alunos por turma, tão pouco na literatura. De acordo com LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), as redes de ensino possuem autonomia para estabelecer a organização e a distribuição das turmas e alunos, mas há o consenso geral de que turmas com muitos alunos podem agravar as desigualdades e prejudicar o aprendizado. A média nacional é de 32,3 alunos por turma, em Goiás este número é de 28,72 alunos por turma.
Quando se analisa um período maior, observa-se que enquanto a maioria dos Estados está diminuindo o número de alunos por turma, em Goiás este indicador permanece quase que inalterado nos últimos dez anos.
 
Quando a literatura indica que um vínculo maior deve ser estabelecido entre os docentes, os alunos e a comunidade para o pleno desenvolvimento educacional, observa-se que na prática, este vínculo pode não ocorrer devido ao “Tipo de contratação” dos docentes, no Brasil 34,19% dos docentes são contratados na modalidade “temporária”, em Goiás este número é de 34,71%, sem dúvida um número alto, já que a instabilidade do contrato pode prejudicar o docente e o consequente aprendizado dos alunos.

Concomitantemente, analisando o relatório da OCDE, especificamente o índice STAFFSHORT, que basicamente é o conjunto dos indicadores Falta de pessoal; Assistentes mal qualificados ou inadequados e Corpo docente mal qualificado ou inadequado, observa-se que a maioria dos diretores de escolas brasileiras reportou “muito” ou “até certo ponto” às questões sobre a falta de pessoal para o desenvolvimento das atividades educacionais. O Chile e os Estados Unidos da América foram os países que apresentaram os melhores índices com relação ao corpo docente e assistência, Goiás acompanha a média nacional.

O Desafio!

Considerando que é o aluno a peça central no processo de aprendizagem e que ao docente cabe a definição de objetivos e o controle dos rumos das ações pedagógicas, se percebe, ante ao exposto, motivos do porquê o país vive uma guerra contra a educação, é preciso melhorar a gestão. Temos muito que avançar, mitigar cada indicador, unir esforços e torna-los convergentes, com o único objetivo: Uma educação com excelência e que garanta a equidade.

Artigos relacionados:Uma Guerra!Uma Guerra – Infraestrutura educacional!Nas Tricheiras – 4 anos do Plano Nacional de Educação!

*Ralph Rangel é ex-superintendente na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás, especialista em Governança nas Tecnologias da Informação e especialista em Educação

Publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://aredacao.com.br/artigos/106023/uma-guerra-%E2%80%93-a-equipe

Nas Trincheiras – 4 anos do Plano Nacional de Educação!

Goiânia – Há exatos 4 anos, no dia 25 de junho de 2014, foi sancionada sem vetos a Lei 13.005 que materializou o PNE – Plano Nacional de Educação, com vistas ao cumprimento do disposto na Constituição Federal de 1988 – uma grande conquista para o país. O grande objetivo do Plano é de melhorar a qualidade da educação brasileira, da pré-escola até a pós-graduação, através de 10 diretrizes e 20 metas que vigoram até 2024, a serem desenvolvidas por instituições de ensino, secretarias municipais e estaduais de educação e MEC e todos os demais órgãos anuentes da Educação, um grande esforço coletivo.

São as diretrizes definidas no do Plano Nacional de Educação:
I – Erradicação do analfabetismo;
II – Universalização do atendimento escolar;
III – Superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação;
IV – Melhoria da qualidade da educação;
V – Formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se
fundamenta a sociedade;
VI – Promoção do princípio da gestão democrática da educação pública;
VII – Promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País;
VIII – Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto – PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade;
IX – Valorização dos(as) profissionais da educação;
X – Promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
socioambiental.

Para obtenção das diretrizes e consequente sucesso do Plano foram estipuladas 20 metas, condutoras e orientadores dos trabalhos nacionais em prol da Educação.
1 – Educação infantil – universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de quatro a cinco anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, cinquenta por cento das crianças de até três anos até o final da vigência do PNE;
2 – Ensino fundamental – universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de seis a quatorze anos e garantir que pelo menos noventa e cinco por cento dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência do PNE;
3 – Ensino médio – universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de quinze a dezessete nos e elevar, até o final do período de vigência do PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para oitenta e cinco por cento;
4 – Educação especial – universalizar, para a população de quatro a dezessete anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados;
5 – Alfabetização das crianças alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do terceiro ano do ensino fundamental;
6 – Tempo integral – oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, cinquenta por cento das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, vinte e cinco por cento dos(as) alunos(as) da educação básica;
7 – Qualidade da educação – básica / Ideb fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb;
8 – Escolaridade média da população de 18 a 29 anos elevar a escolaridade média da população de dezoito a vinte e nove anos, de modo a alcançar, no mínimo, doze anos de estudo no último ano de vigência deste Plano, para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos vinte e cinco por cento mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
9 – Alfabetização da população com 15 anos ou mais / Erradicação do analfabetismo absoluto elevar a taxa de alfabetização da população com quinze anos ou mais para noventa e três inteiros e cinco décimos por cento até 2015 e, até o final da vigência do PNE, erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em cinquenta por cento a taxa de analfabetismo funcional;
10 – Educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional oferecer, no mínimo, vinte e cinco por cento das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma integrada à educação profissional;
11 – Educação profissional técnica de nível médio triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos cinquenta por cento da expansão no segmento público;
12 – Acesso à educação superior – elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para cinquenta por cento e a taxa líquida para trinta e três por cento da população de dezoito a vinte e quatro anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, quarenta por cento das novas matrículas, no segmento público;
13 – Qualidade da educação superior / Titulação do corpo docente – elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior para setenta e cinco por cento, sendo, do total, no mínimo, trinta e cinco por cento doutores;
14 – Acesso à pós-graduação stricto sensu / Ampliação do número de titulados elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de sessenta mil mestres e vinte e cinco mil doutores;
15 – Formação dos profissionais da educação/professores da educação básica com formação específica de nível superior (licenciatura na área de conhecimento em que atuam) garantir, em regime de colaboração entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, no prazo de um ano de vigência deste PNE, política nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. 61 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado que todos os professores e as professoras da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam;
16 – Formação, em nível de pós-graduação, dos professores da educação básica / Formação continuada na área de atuação formar, em nível de pós-graduação, cinquenta por cento dos professores da educação básica, até o último ano de vigência do PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino;
17 – Equiparação, até o final de 2019, do rendimento médio dos profissionais do magistério das redes públicas de educação básica ao dos demais profissionais com escolaridade equivalente valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência do PNE;
18 – Planos de carreira para os profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino / Piso salarial nacional para profissionais da educação básica pública – referenciados na Lei do Piso assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os(as) profissionais da educação básica e superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de carreira dos(as) profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da Constituição Federal;
19 – Gestão democrática da educação – assegurar condições, no prazo de dois anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto;
20 – Investimento público em educação pública ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de sete por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do país no quinto ano de vigência desta lei e, no mínimo, o equivalente a dez por cento do PIB ao final do decênio.

Além destas diretrizes e metas, foram estipuladas 254 estratégias e 14 artigos para definirem as ações a serem realizadas pelos atores, mas, como todos podem perceber, algo não funcionou bem.

Consideramos que se houver um grande esforço nacional poderemos atingir as metas e o sucesso educacional com consequente aumento da qualidade de vida e do PIB nacional. À luz dos recentes dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o INEP, no Relatório do 2º Ciclo de Monitoramento das Metas do Plano Nacional de Educação, houve alguns avanços. Na meta 1, que propõe a universalização de oferta de ensino às crianças de 4 e 5 anos, houve o cumprimento de 90,5% em 2015. Em contrapartida, constatamos que os 9,5% restantes totalizam 500 mil crianças fora da escola.

Na meta 3, que estabelece a universalização da etapa até 2016, vimos que o Brasil tem hoje 1,5 milhão de jovens dessa faixa etária sem matrícula. Um quadro dantesco que demanda a emergencial reforma do Ensino Médio, tornando a modalidade mais adequada aos jovens do nosso país. Unem-se a estes outros dados que nos demonstram claramente que a alfabetização da população adulta até 2024 ainda é um grande desafio, que a valorização dos professores está bem aquém do almejado, que é premente avançar em políticas públicas para combate às desigualdades, e que é imperativa a necessidade de mais recursos para a Educação, bem como aprimorar a gestão de tais recursos.

É de suma importância que as ações políticas, dos agentes públicos que já estão na gestão e que os candidatos às eleições em 2018, em seus planos de governo, contemplem o que já foi definido no PNE, sem invencionices ou malabarismos. Há que se atuar de forma conjunta e estratégica, considerando a Educação como política de Estado. São tarefas árduas, mas totalmente plausíveis para uma educação com excelência e equidade.

Ralph Rangel: É ex-Superintendente na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás Especialista em Governança nas Tecnologias da Informação e Especialista em Educação

Ester CarvalhoEster Carvalho: É Coordenadora do Fórum Nacional de Educação, FNE Secretária Executiva e Conselheira do Conselho Estadual de Educação do Estado de Goiás, Advogada e Educadora

Publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://www.aredacao.com.br/artigos/105308/nas-trincheiras-4-anos-do-plano-nacional-de-educacao

Uma guerra – Infraestrutura educacional!

Goiânia – No artigo intitulado Uma guerra! clique aqui para ler, apontamos que o Brasil vive uma guerra contra a educação, e tal guerra tem reflexos diretos no PIB e na situação social, e que ainda, de acordo com o relatório da OCDE(Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico), publicado em fevereiro de 2018, os estudantes brasileiros, no ritmo atual, podem demorar mais de 260 anos para atingir os níveis de proficiência em leitura dos países melhores colocados e 75 anos para atingir os níveis em matemática. Neste artigo vamos continuar avançando para detectarmos os pontos de melhoria da educação, mais especificamente com relação a Infraestrutura educacional.

Para onde olhar?
Vamos analisar os resultados obtidos nos relatórios da OCDE versus a infraestrutura oferecida pela rede pública, ao realizarmos tal procedimento, chegaremos a uma breve análise de recursos educacionais que impedem as escolas de fornecer um ambiente adequado de aprendizado. O sistema de referência será composto pelo Censo Escolar do MEC e pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) da OCDE, sendo que este último, é um programa contínuo, que sob visão de longo prazo tem por objetivo o desenvolvimento de uma base de informações educacionais para o monitoramento de conhecimentos e habilidades dos estudantes – definição da própria OCDE. O PISA é designado ainda, como o instrumento externo de referência na avaliação de aprendizagem de estudantes brasileiros da Educação Básica conforme consta na estratégia 11 da meta 7 do Plano Nacional de Educação.

Uma questão de infraestrutura!
Para analisarmos a infraestrutura e sua relação com os resultados obtidos, adotaremos os indicadores abaixo, construídos a partir do Censo Escolar juntamente com o índice de Recursos educacionais da OCDE:

  1. Escolas sem laboratórios de ciências;
  2. Escolas sem quadras de esporte;
  3. Escolas sem salas de leitura ou biblioteca;
  4. Escolas sem sala de recursos multifuncionais para atendimento educacional especializado;
  5. Escolas sem dependências adequadas às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida;
  6. Escolas sem recursos computacionais para uso educacional;
  7. Escolas sem internet banda larga.

Sabemos que quando falamos em infraestrutura devemos ir muito além, mas esbarramos no fato de que pelo Censo Escolar não é possível identificar o estado de conservação e muito menos o número de horas trabalhadas efetivamente em cada indicador quando for o caso.

Ao utilizarmos estes indicadores procuramos analisar a infraestrutura mínima que a escola precisa oferecer aos alunos, tanto para o desenvolvimento de atividades que potencializem o aprendizado, bem como, o quão a escola está preparada para receber a comunidade, servidores e alunos com deficiência ou mobilidade reduzida. Utilizaremos ainda, dados do Brasil e do Estado de Goiás, este ultimo por me ser familiar e por apresentar um dos melhores desempenhos no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) nos últimos anos.

Vamos aos números!
De acordo com os dados do último Censo Escolar publicado temos que 71,70% das escolas públicas brasileiras não possuem sala de recursos multifuncionais para atendimento educacional especializado, em Goiás este número é de 63,18%; 57.89% das escolas não possuem dependências ou vias adequadas às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzidas, em Goiás o número é de 48,23%; 6,74% das escolas brasileiras são escolas sem internet, em Goiás o número é de 3,70%; 2,15% é o número de escolas sem recursos computacionais no Brasil, em Goiás o percentual é de 0% (zero); no Brasil 13,69% das escolas reportaram que não possuem sala de leitura ou biblioteca, em Goiás 12,86%; 56,79% das escolas do Brasil não possuem laboratório de ciências, em Goiás 68,01% e por fim 24,32% das escolas no Brasil não possuem quadra de esportes, este número em Goiás é 33,60%.

Já no relatório da OCDE, quando analisamos o percentual de estudantes cujos diretores reportaram “muito” ou “até certo ponto” às questões sobre a falta de recursos educacionais, os maiores problemas identificados se relacionam à: Falta de infraestrutura física adequada ou de má qualidade, Falta de material educativo ou até mesmo a inadequação dos mesmos.

É só investir mais?
A questão não se resume somente em mais investimentos, é preciso investir certo! O investimento deve chegar de fato aonde deve chegar, deve beneficiar o aluno, o professor e a escola primordialmente. Isso pode ser facilmente explicado pelo orçamento do MEC que nos últimos anos foi multiplicado por três, mas os resultados não se concretizaram. Continuaremos abordando o tema nos próximos artigos rumo a uma educação com excelência e equidade.

Ralph RangelRalph Rangel é ex-superintendente na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás, especialista em Governança nas Tecnologias da Informação e especialista em Educação

Publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://www.aredacao.com.br/artigos/104783/uma-guerra-%E2%80%93-infraestrutura-educacional

Uma guerra!

Goiânia – Quando falamos em guerra, a primeira imagem que vem à mente é um cenário de desolação total, com vidas ceifadas e a infraestrutura, prédios e lares totalmente devastados. Sabemos, ainda, que a experiência em conflitos militares impacta diretamente as economias dos países envolvidos. Para se ter uma ideia, a Guerra da Coreia (1950-1953), que matou mais de 1,2 milhão de pessoas também reduziu o PIB do país em 60%, e o mesmo acontece com a Síria, no Oriente Médio, desde 2011.

É claro que o Brasil não vive uma guerra contra outro país, vive na verdade uma guerra contra a educação, e essa guerra tem impactos relacionados com os problemas do presente e com o futuro do país. De acordo com o último relatório da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico), publicado em fevereiro de 2018, os estudantes brasileiros, no ritmo atual, podem demorar mais de 260 anos para atingir os níveis de proficiência em leitura dos países melhores colocados e 75 anos para atingir os níveis em matemática.

E isso é uma tragédia!
Tivesse o Brasil atingido as metas, ou seja, o êxito na universalização da educação com qualidade, o PIB per capita poderia ter sido 70% superior ao atual, e entre 2030 e 2095 o PIB per capita poderia ser sete vezes maior.

E por que isso não acontece?
Antes, é preciso mencionar em linhas gerais, que o PIB per capita corresponde à soma das taxas de crescimento da produtividade do trabalho, da taxa de ocupação e da taxa de participação, e que a produtividade é a relação entre insumos e produtos; aumentar a produtividade significa fazer mais com a mesma quantidade de insumos, e a alta produtividade é alcançada através da formação da mão de obra e da aplicação tecnológica.

Vivemos um círculo vicioso e perigoso, pois, com o baixo nível educacional, a economia quando não estimulada por planos mirabolantes anda em ritmo lento, já que não é sustentável, e todos os atores são afetados; as empresas obtêm lucros menores, a renda distribuída em salários aos trabalhadores cai, o consumo cai, consequentemente o comercio investe menos inibindo a produção industrial, que por não ter desenvolvimento e pesquisa motivado pela baixa capacidade educacional fica estagnada e não inova.

Todo esse ciclo afeta também o poder público já que a arrecadação também cai, culminando numa diminuição dos investimentos em infraestrutura, educação, segurança e saúde por exemplo.

E por que isso acontece?
Porque o Brasil investe pouco e investe mal na educação!

O Brasil gasta anualmente aproximadamente US$ 3,8 mil por aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental (até a 5ª série), a cifra representa menos da metade da quantia média paga por ano com cada estudante nessa fase escolar pelos países da OCDE, que é de US$ 8,7 mil. O primeiro país da lista gasta US$ 21,2 mil.

Um alento!
A reforma na educação aprovada em 2016 reduziu o número de disciplinas obrigatórias, ofertando mais opções e mais espaço de personalização do conteúdo letivo para estudantes com menos inclinação acadêmica. E isso foi um grande avanço!

Ainda, de acordo com o relatório, entre os anos 2003 e 2012, o Brasil melhorou os recursos educacionais de suas escolas em 0.63 no índice de qualidade dos recursos educacionais, um dos maiores aumentos entre todos os países e economias. É importante mencionar que os jovens de 15 anos no Brasil tendem a apresentar um melhor desempenho em leitura digital do que em leitura impressa, o que significa que aqueles que têm acesso a um dispositivo digital estão comparativamente bem preparados para participar desta nova era. Mas isso é pouco!

Desafio!
O grande desafio é a criação de políticas públicas nacionais que respeitem as particularidades regionais para aprendizado de qualidade e em escala, com fonte de financiamento perene e flexível, culminando assim, num sistema educacional ágil, inovador e capaz de se adequar aos desafios do futuro com envolvimento e participação de todos.

Ralph RangelRalph Rangel é ex-superintendente na Secretaria de Educação, Cultura e Esporte de Goiás, especialista em Governança nas Tecnologias da Informação e especialista em Educação

Publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://www.aredacao.com.br/artigos/104172/uma-guerra

Gestão compartilhada não significa privatizar ou vender

Ricardo Paes de Barros, um dos maiores especialistas do mundo em pobreza e desigualdade, disse em um artigo para a revista Época que a crise na educação é mais grave do que a pobreza. “Nossa revelada incompetência em melhorar em educação torna o problema mais desafiante e mais importante”, afirma em um trecho da entrevista ao tabloide.

O Governo de Goiás reconhece que ações para a melhoria da educação no Estado esbarram na burocracia, que impede o avanço. Por isso, Goiás abre as portas para um modelo inovador, a gestão compartilhada com as organizações sociais. Na prática, as OSs vão gerir as escolas com administradores profissionais e proporcionar ao diretor da unidade a responsabilidade exclusiva da parte pedagógica.

Essa forma de gestão não significa privatizar ou vender, significa readequar orçamento e aumentar a qualidade de ensino, mantendo a escola pública e gratuita, ponto rotineiramente questionado. A parceria não tira do aluno, professor ou diretor qualquer direito. Pois bem. Escolas de gestão compartilhada continuarão públicas!

A Secretaria de Educação, Cultura e Esporte vem informando insistentemente que as escolas geridas por OSs não terão cobranças de mensalidade, material escolar, taxa ou contribuição. Os alunos vão continuar ingressando às universidades pelo sistema de cotas para escola pública. Os professores efetivos mantém os direitos e os temporários vão passar por um processo seletivo e serão contratados pelo regime da CLT com todos os direitos garantidos.

As OSs são entidades que precisam mostrar resultados e passam por regulação e fiscalização do Estado.

Diante da previsão de melhoria de uma área tão carente em todo o Brasil, questiono o motivo de secundaristas e militantes ainda se posicionarem contra o modelo de gestão, que não tira do Estado a responsabilidade da educação. Querem continuar estudando em escolas com estruturas precárias? Os mesmos que antes reclamavam do bebedouro que quebrou há mais de um ano e não foi trocado ocupam escolas na tentativa de impedir que esse mesmo equipamento seja substituído em poucos dias, situação possível com a desburocratização.

A educação é o principal vetor capaz de alinhar o desenvolvimento econômico com o social, segundo o Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna. O Estado de Goiás tem tentado, sob severas acusações, ofertar uma educação pública de qualidade, com professores valorizados e alunos capacitados. A transformação do cenário brasileiro começa pelo nosso Estado e por isso tem meu total apoio.

Ralph RangelRalph Waldo Rangel é Superintendente de Acompanhamento dos Programas Institucionais da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás.

Publicado originalmente no Jornal A Redação, link https://www.aredacao.com.br/artigos/65625/gestao-compartilhada-nao-significa-privatizar-ou-vender

Educação

Educação é o ato de educar, de instruir, é polidez, disciplinamento.

No seu sentido mais amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte. A educação vai se formando através de situações presenciadas e experiências vividas por cada indivíduo ao longo da sua vida.

O conceito de educação engloba o nível de cortesia, delicadeza e civilidade demonstrada por um indivíduo e a sua capacidade de socialização.

De acordo com o filósofo teórico da área da pedagogia René Hubert, a educação é um conjunto de ações e influências exercidas voluntariamente por um ser humano em outro, normalmente de um adulto em um jovem. Essas ações pretendem alcançar um determinado propósito no indivíduo para que ele possa desempenhar alguma função nos contextos sociais, econômicos, culturais e políticos de uma sociedade.

No sentido técnico, a educação é o processo contínuo de desenvolvimento das faculdades físicas, intelectuais e morais do ser humano, a fim de melhor se integrar na sociedade ou no seu próprio grupo.

Educação (do latim educations) no sentido formal é todo o processo contínuo de formação e ensino aprendizagem que faz parte do currículo dos estabelecimentos oficializados de ensino, sejam eles públicos ou privados.

No Brasil, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases, a Educação divide-se em dois níveis, a educação básica e o ensino superior. A educação básica compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A educação nacional remete para o grupo de órgãos que fazem a gestão do ensino público e fiscalização do ensino particular.

No processo educativo em estabelecimentos de ensino, os conhecimentos e habilidades são transferidos para as crianças, jovens e adultos sempre com o objetivo desenvolver o raciocínio dos alunos, ensinar a pensar sobre diferentes problemas, auxiliar no crescimento intelectual e na formação de cidadãos capazes de gerar transformações positivas na sociedade.

A educação não se limita apenas a normais morais e intelectuais, mas também pode estar relacionada com o aspecto físico, como é o caso da educação física.

Educação ambiental

O conceito de educação ambiental implica a sensibilização e aprendizagem em relação ao meio ambiente. São abordados temas como a reciclagem e energias renováveis, com o objetivo de criar atitudes que contribuam para a diminuição do impacto ambiental.

A lei 9.795 de 1999 classifica a educação ambiental como “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.”